O álcool e a loja: Uma mistura aceitável ou perigosa?

No Brasil, seja no momento do ágape ou nas festividades, até o momento, nunca observei uma loja que faça restrição ao consumo de álcool em suas dependências. Eu, que gosto bastante de beber cerveja, mas por morar longe de minha loja e depender do carro para o deslocamento até a minha residência, prefiro não beber pois como sabemos, é contra lei consumir bebidas alcoólicas e dirigir.

Sabemos que o consumo excessivo de álcool provoca diversos efeitos na região cerebral, tal como alterações nas áreas responsáveis pela memória e déficit cognitivo. Dados da Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Outras Drogas (ABEAD), por ano, 32 mil pessoas morrem em decorrência da bebida alcoólica. O álcool também está por trás de 60% das mortes no trânsito e 72% dos homicídios. Além do álcool contribuir para casos de afogamentos, quedas, suicídios, entre outros.

Á partir deste interessante ponto, iniciei uma pesquisa para entender como outros países encaram o tema “O álcool e a loja”.

A história do álcool na Maçonaria pode ser vista a partir dos primórdios, coexistindo pacificamente. Quando a Grande Loja de Londres foi formada em 1717, as primeiras lojas reuniram-se em tabernas, incluindo aquelas que finalmente formaram a UGLE.

Lojas americanas continuaram a tradição de reunião em tabernas incluindo a primeira Grande Loja de Maçons na América, em Boston, formada no Bunch of Grapes Tavern. Muitas lojas participam de lojas de mesa ou festividades que envolvem brindes.

No entanto, o modo de vida americano mudou como uma nova onda de imigração atingindo as costas. Muitos reformadores começaram a ver álcool como um mal que contribuía para os problemas da sociedade. Um movimento social chamado “movimento de temperança” começou por volta de 1840, afim de limitar a quantidade de álcool que as pessoas poderiam consumir. Mais tarde, o estado de Maine criou uma proibição para todas as bebidas alcoólicas e foi acompanhado por outros Estados “secos”. O movimento causou uma intensa proibição em muitas organizações fraternas, incluindo muitas Grandes Lojas estaduais, que começaram a banir aqueles que poderiam se unir aos proprietários dos bares ou tavernas. O movimento cresceu quando a 18ª Emenda foi ratificada na Constituição, que proibia “a fabricação, venda, ou transporte de bebidas alcoólicas, a importação dos mesmos, ou a exportação a partir dos Estados Unidos … para bares”.

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“A progressão do bêbado”: uma litografia de Nathaniel Currier da década de 1840 mostrando as supostas etapas da decadência de um alcoólatra. A litografia visava a apoiar o Movimento da Temperança.

 

Após uma década de contrabando, a 21ª Emenda foi ratificada, revogando a 18ª Emenda, embora ainda foi dado aos Estados, o direito de restringir o transporte de bebidas alcoólicas, caso eles assim desejassem.

Nos Estados Unidos, ainda existem muitos condados e municípios secos, incluindo 46 condados completamente secos no Texas. Há também exemplos modernos da Temperança incluindo o Mothers Against Drunk Driving (MADD) e da International Organisation of Good Templars. O álcool ainda é altamente regulado e modernas leis estaduais definem o nível do consumo através dos esforços do MADD.

A fonte de temperança em Tompkins Square Park, New York City
A fonte de temperança em Tompkins Square Park, New York City

O site Paul M. Bressel realizou um estudo com as diversas Grandes Lojas americanas, onde podemos verificar que pelo menos três Grandes Lojas proíbem o ingresso de proprietários de bares. Muitas Grandes Lojas, consideram a embriaguez uma questão de comportamento não-maçônico com a possibilidade de repreensão. Muitas Grandes Lojas também proíbem que o álcool seja servido na Loja, por exemplo, Arizona, Flórida, Kansas, Kentucky, Louisiana, etc.

Em alguns estados americanos, a loja para fornecer bebidas nas festividades, deve tirar uma licença de evento que serve somente para um dia. A Califórnia é um exemplo desta prática.

No Canadá, Escócia, França, Inglaterra e Suécia não é permitido o consumo de bebidas no espaço da loja, enquanto a loja estiver aberta no templo. Após o término da sessão, é permitido o consumo na área da loja, mas os irmãos não podem adentrar ao templo com bebidas. Nos países islâmicos, não é permitido o consumo de álcool nas dependências das lojas maçônicas.

Eu acredito que não há nada de errado com álcool ser consumido nos ágapes e festividades, desde que a conduta não leva a embriaguez excessiva. Nós buscamos uma ordem moral mais elevada, mas devemos lembrar do nosso passado, um passado que incluiu reunião em tabernas.

É pela fragilidade dos homens em não conhecer os seus limites, que leva o álcool a ser um problema.

 

Bibliografia:

Link do estudo realizado pelo site Paul M. Bressel – http://www.bessel.org/liquor.htm

Relatos de diversos irmãos dos países citados no texto.

5 thoughts on “O álcool e a loja: Uma mistura aceitável ou perigosa?

  • 11 de novembro de 2016 em 12:56 PM
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    Pesquisa é pesquisa, sempre nos enriquece, muito bom trabalho, da margem a discussões “infinitas”.
    Acrescentaria a esta discussão o consumo de refrigerantes, principalmente a Coca-Cola, pois é muito prejudicial a saúde e também é um vício. Se ambos são viciantes e são prejudiciais a saúde, deveríamos fazer campanha para não serem consumidos em Loja.

  • 29 de setembro de 2016 em 6:01 PM
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    Em nossa loja no momento do Ágape não temos álcool por decisão da assembléia. Também não achamos coerente cavar masmorras a algo e pratica-lo logo em seguida… independente da questão histórica. Mas, não somos donos da verdade e que cada irmão ou irmãos traga para si aquilo que considere válido à sua evolução. Tfa

  • 12 de agosto de 2016 em 3:16 PM
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    Só existe vício quando há dependência.
    Tomar uma taça de vinho na refeição ou um Chopp, não se constitui em vício.
    Mas, dentro da obediência do Grande Oriente do Brasil, há uma norma de âmbito federal proibindo o consumo de bebidas alcoólicas nos espaços anexos aos templos maçônicos onde são servidos os ágapes. Aquela legislação é bem antiga e às vezes suponho que se tornou “letra morta”, mas sei que permanece em vigência.

  • 12 de agosto de 2016 em 7:09 AM
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    Excelente pesquisa, enriquece o conhecimento histórico, bem como alerta para à saúde e integridade física dos IIr.’.
    TFA.’.
    Lopes.’.

  • 11 de agosto de 2016 em 5:51 PM
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    Combatemos o vício… Logo beber álcool é vício.

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