A utilização da abeta nos aventais maçônicos

O avental do maçom e sua abeta, são utilizados desde o início da maçonaria especulativa e de múltiplas formas. Às vezes, elevada ao peito e outras, para baixo afim de evidenciar um grau. Com este texto, busco trazer algumas informações para comparação das maneiras que o avental pode ser utilizado, diferente do modo conhecido no Brasil.

Muitos autores afirmam que na maçonaria especulativa, o costume de usar um avental tem suas origens na época em que todos os maçons de ofício usavam um avental branco. O modo de utilização, geralmente, é para o reconhecimento do grau ou categoria do portador, e … “nada mais”, disse Harry Carr.

Duas divulgações, “The Mason’s Examination” de 1723 e o bem conhecido “Maçonaria Dissecada” de Samuel Pritchard de 1730, descrevem que ao neófito foi entregue um avental. Nenhum deles, porém, menciona alguma disposição específica sobre a forma de utilizar ou o relacionamento com diferentes graus.

Podemos presumir que as lojas inglesas do século XVIII, não tinham uma regra uniforme a respeito da utilização do avental, pois a regulação da prática foi imposta pelo Ato de União de 1813, entre as duas Grandes Lojas, dos Antigos e dos Modernos. A utilização do avental de acordo com certas regras, foi uma forma de posição política contra a prática dos “modernos”. É bem evidente no que diz respeito à Maçonaria continental, que essa uniformidade não têm o mesmo propósito. Isso explica por que, ainda hoje, há uma multiplicidade de formas e cores.

Muitos aventais antigos foram encontrados e estão expostos em vários museus maçônicos por toda a Europa. Alguns possuem uma roseta ou um botão para facilitar o dobramento da abeta. Com a introdução de certos rituais (Emulação ou Rito Escocês Retificado, por exemplo) de modelos de aventais diferenciados para Companheiros com duas rosetas e bordas coloridas ou três rosetas acompanhados por bordas coloridas e decoradas para os Mestres, a necessidade de diferenciar os graus por dobragem em um avental branco, não era necessário.

A abeta levantada do Aprendiz e abaixada para o Companheiro, no entanto, continua a ser uma prática comum em muitos rituais de todo o mundo, assim como no Brasil. Esta prática evidencia os únicos dois graus existentes na Maçonaria como Ofício. Isto sugere, implicitamente, ao Maçom moderno, que existe uma diferença entre o Mestre Maçom e os “antigos” construtores, a partir do grau três.

A documentação mais antiga sobre o assunto é uma publicação de origem francesa: “Le catéchisme des francs maçons” (Catecismo dos maçons) de 1744 que afirma que os “Companheiros do Ofício usavam o avental com a ponta para cima”, ou seja, o inverso da prática moderna, enquanto que o Mestre usa a aba para baixo (podemos notar que não há distinção de cor).

A publicação “Le maçon démasqué”, de 1751, afirma que “O Aprendiz deve usar o avental com a abeta para dentro” (ou seja, apenas o quadrado do avental ficava visível). O Companheiro estava autorizado a colocar a abeta para fora e prendê-lo a um botão em seu colete, a abeta então ficava elevada neste grau. O Mestre é livre para deixar cair a abeta, ficando assim, visível.

Estas publicações sugerem, então, que em uma diferença de sete anos, duas instruções idênticas sobre o Aprendiz. Uma indica claramente que havia uma separação em três graus como uma prática já em 1744, enquanto a abeta sempre levanta no grau de Companheiro e abaixa para o grau de Mestre, como em 1751.

Importante é, que as divulgações antimaçônicas que visavam revelar os segredos da ordem no século XVIII, são documentos utilizados para melhor entendermos quais eram as características de trabalho da época, já que a confecção de rituais não era uma prática.

Em algumas jurisdições dos EUA, é comum que os irmãos Visitantes, só utilizem aventais brancos. Nestas jurisdições, somente os oficiais são distinguidos pela utilização de aventais decorados, e esta é a razão pela qual a dobragem e posicionamento das abas, permanecem um elemento de distinção de qualidades dos membros presentes na reunião.

Em resposta a uma pergunta sobre este ponto, um irmão americano disse: “Cada novo iniciado recebe seu avental branco de couro de cordeiro no dia da sua recepção. A decoração é pessoal para ele, mas não precisa de qualquer marca ou decoração. Ele leva para sua casa e com respeito coloca em um lugar onde pode manter até sua morte. E o avental só sai deste lugar para ser enterrado junto com o dono. Na Loja, durante o trabalho, ele deverá usar um avental branco, mas pode ser bordado em azul com o número de identificação e o nome de sua loja na abeta. Estes aventais utilizados nas reuniões, ficam à disposição dos irmãos da loja e ficam guardados como o Cobridor e devem ser devolvidos após a cerimônia”.

Nos EUA, atualmente, há uma pequena diferença entre a utilização do avental do Companheiro. No estado de Connecticut, por exemplo, com a abeta abaixada, a parte inferior esquerda é levantada e presa para dentro do avental. Já no estado de Massachusetts, a parte inferior direita é a levantada, conforme foto abaixo. Já os aventais de Aprendiz e Mestre são iguais em ambos os estados.

As lojas da Grande Loja da Escócia, também empregam um avental branco, não se sabe quantas lojas escocesas usam o que eles chamam de “sistema Inglês” e quantas delas ainda praticam o antigo costume escocês. Na maneira antiga e tradicional (os regulamentos permitem usar o sistema de Inglês, desde que a parte inferior do avental dos Aprendizes, estejam equipados com insígnias para distingui-los dos Companheiros e Mestres), o Aprendiz deve usar um avental com a aba levantada até que cubra o peito. O avental é branco em todos graus, e a base do avental em forma de um semicírculo, o que diferencia do Inglês, que é triangular. Para os Companheiros, o canto inferior esquerdo é levantado e preso ao cinto, formando um triângulo.

No Grande Oriente dos Países Baixos (Orde van Vrijmetselaren in Nederland), o candidato recebe um avental que será utilizado para os três graus. O avental tem as cores próprias da loja, pois tanto na Holanda como na Escócia, cada loja escolhe suas próprias cores. O Aprendiz usa o avental com a abeta dobrada para dentro, o Companheiro com a abeta levantada e o Mestre com a abeta para baixo.

Concluindo, podemos verificar que, assim como no passado, existem formas diferentes de utilização do avental para diferenciar os graus de Aprendiz e Companheiro. No Brasil estamos acostumados com a abeta levantada no grau de Aprendiz, mas estudando e buscando cada vez mais informação, observamos que isso não é um padrão. Á partir de agora, ao ver a foto de um irmão com a abeta do avental levantada, não tenha tanta certeza que se trata de um Aprendiz, pode ser um Companheiro de outro país.

Bibliografia:

  • Artigo de Harry Carr – Freemason at work – Quatuor Coronati Lodge.
  • The Mason’s Examination – 1723
  • Maçonaria Dissecada – Samuel Pritchard – 1730
  • Le catéchisme des francs maçons – 1744
  • Le maçon démasqué – 1751
  • Site da Grande Loja dos Países Baixos – https://www.vrijmetselarij.nl/

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