O Manuscrito Trinity College (1711) – A aparição de um sistema de três graus na Irlanda.

Introdução

Este manuscrito está localizado na Trinity College Library, em Dublin. Vem da coleção de Sir Thomas Molyneux (1661-1733), professor de física na Universidade de Dublin, depois médico-geral do exército na Irlanda.

Sir Thomas Molyneux (1661-1733)

O documento era de seu sobrinho chamado Samuel Molyneux, que foi secretário de George II, quando este era príncipe de Gales; posteriormente, tornou-se Senhor do Almirantado e Conselheiro Privado da Universidade de Dublin e da cidade de Bossiney, Inglaterra. Quando Samuel faleceu em 1728, as propriedades da família foram para Sir Thomaz Molyneux.

Este manuscrito foi publicado nas Transactions of the Lodge of Research CC, Dublin, 1924, e depois por Knoop, Jones e Hamer nos primeiros catecismos maçônicos. Esta tradução foi realizada à partir da Edição de Knoop, Jones e Hamer.

Ele tem a inscrição “Maçonaria, fevereiro, 1711”. Esta inscrição não está com a mesma letra que o texto, que poderia ser anterior a esta data, mas não posteriormente. Não foi possível especificar se a data foi escrita pelas mãos de Sir Thomas Molyneux.

Não há evidências de que o texto tenha sido escrito na Irlanda. Além disso, será observado que o texto tem muitas afinidades com os catecismos escoceses e com manuscrito Sloane nº 3329 do ano 1700.

Como este último, ele é composto de duas partes, embora na ordem inversa: um catecismo por perguntas e respostas e uma descrição dos segredos do reconhecimento, que tem várias características em comum com a parte correspondente do Ms Sloane nº3329.

Finalmente, como o Sloane, o manuscrito do Trinity College atesta a existência da maçonaria antes de 1717 e até antes de 1711, de um sistema em três graus.

Um detalhe interessante é que o manuscrito começa com um desenho mostrando um H maiúsculo com uma cruz sobre ele. Este desenho é obviamente retirado do cristograma IHS do nome de Jesus, que geralmente é escrito com uma cruz acima da letra H. (1)

Devemos ver aqui, o eco de uma referência a cristo que se expressa de maneira tão eloquente em textos como no manuscrito de Graham oun o manuscrito de Dumfries nº 4, e mais discretamente no Sloane nº 3329.

Este desenho pode ser a origem do chamado “triplo tau”, mas isso não é confirmado pela museografia das jóias do arco real. Também há a suspeita de se tratar das iniciais da frase Templum Hierosolyma, que significa: O Templo de Jerusalém.

A particularidade mais importante do documento, é que pela primeira vez, um documento possui segredos separados por três graus distintos.

O Texto Original

Sob pena não inferior (2)

Pergunta. – Que tipo de homem você é?
Resposta. – Eu sou maçom.

P. – Como vou saber?
R. – Por sinais, símbolos e pontos da minha entrada.

P. – Onde você entrou?
R. – Em uma loja completa e perfeita.

P. – O que faz de uma loja, completa e perfeita?
R. – Três mestres, três companheiros do ofício e três aprendizes inseridos. (3)

P. – Como é a sua loja?
R. – De leste a oeste como o templo de Jerusalém.

P. – Onde está o mestre?
R. – Em uma cadeira de ossos no meio de um pavimento retangular.

P. – Por que ele está lá?
R. – Para observar o nascer do sol e ver quando colocar seus homens para trabalhar.

P. – Qual a altura da sua loja?
R. – Tão alto quanto as estrelas, inúmeras polegadas e pés.

P. – Onde você guarda a chave da sua loja?
R. – Em uma caixa de osso, a um pé e meio da porta da loja.

P. – Qual o tamanho do cabo da âncora?
R. – Tão longe quanto a língua do coração.

P. – De que maneira o vento está soprando?
R. – Do leste, do oeste e do sul.

O sinal comum é com a mão direita esfregar a boca, passá-la transversalmente na frente da garganta e colocá-la no peito esquerdo.

O sinal do Mestre é coluna vertebral, a palavra é Matchpin (4).

O sinal do Companheiro do ofício é a articulação e o tendão dos dedos, a palavra Jachquin.

O sinal do Aprendiz Inserido é tendão dos dedos, a palavra Boaz ou: é oco. (5)

Para o Mestre, pressione a coluna, coloque o joelho entre os dele e diga “matchpin”.

Para o Companheiro de ofício, pressione as articulações e os tendões dos dedos e diga “Jachquin”.

Para o Aprendiz inserido, pressione os tendões e diga “Boaz” ou: “é oco”.

No escuro, para descobrir se há um maçom por perto, digamos, “o dia foi feito para ver e a noite para ouvir” (6).

Se você estiver entre os irmãos e se eles beberem para a sua saúde, vire o topo do copo para baixo; se, depois de duas ou três vezes, você os ouvir dizer: “Beba, e eu assegurarei que você pagará sua taxa”. Ou, se você disser “o escudeiro é magro” ou se você atirar uma rolha em um deles, dizendo: “me troque essa moeda”, eles pagarão sua taxa.

Para chamar um irmão, os sinais são os seguintes: (7)

Se você disser: “A loja não está telhada”, ou seja, há alguém que você suspeita não ser irmão.

Para descer um homem de um andaime, ou de qualquer lugar, junte os calcanhares juntando as pontas dos pés e olhando para cima; depois, com a mão ou com um bastão, faça um ângulo reto. Este gesto e todos os outros devem ser feitos com um ar muito desapegado.

NOTAS

1. – Observemos que este monograma não é “jesuíta”. Foi usado tanto na Igreja Anglicana quanto na Igreja Católica Romana. Pode ser visto, por exemplo, em embarcações litúrgicas dos séculos XVII e XVIII, preservadas no tesouro da Catedral de Christchurch, em Oxford.

2. – Sob pena não inferior – Início da fórmula anunciando as punições previstas por perjúrio. Essa fórmula, que se tornou ritual na Maçonaria inglesa, estava originalmente nas “palavras de entrada” dos catecismos escoceses.

3. – Três mestres, três companheiros e três aprendizes. Encontramos aqui os três graus da Maçonaria Especulativa Moderna.

4 – Matchpin – Esta pode ser uma corruptela da palavra do mestre “Mahabyn”, que podemos encontrar no manuscrito Sloane nº3329. Uma variante de “Mahabyn” é a palavra “Maughbin” mencionada no “A Mason’s Examination”, impresso em 1723. A palavra “Maughbin” também tem uma grande semelhança com “Matchpin”.

5. – Oco – Isso explica a passagem do Ms Sloane nº 3329, que fornece como meio de reconhecimento “bater suavemente na parede dizendo: isto é oco”.

6. – “o dia foi feito para ver e a noite para ouvir” – Isso também aparece no Ms Sloane nº3329.

7. – O primeiro sinal obviamente representa um esquadro. Corresponde à passagem do Ms Sloane nº 3329, que exige enviar a um maçom “um alfinete dobrado ou um pedaço de papel cortado no formato de um esquadro”. Os outros dois sinais representam respectivamente a caixa de ossos e um compasso medindo um círculo.

6 thoughts on “O Manuscrito Trinity College (1711) – A aparição de um sistema de três graus na Irlanda.

  • 22 de setembro de 2020 em 2:22 PM
    Permalink

    Realmente fantástico, fiquei maravilhado com a riqueza da pesquisa. Um Tfa meus Irmãos.

  • 29 de março de 2020 em 11:31 AM
    Permalink

    I have been checking out a few of your posts and i can state pretty nice stuff. I will definitely bookmark your site.

  • 28 de fevereiro de 2020 em 12:39 AM
    Permalink

    Fantástico! Quanta riqueza de conteúdo! Confesso que nunca li sobre o tema. Interessante este manuscrito mencionar o Grau de Mestre antes do período compreendido entre 1.725 e 1.730. Parabéns Amado Irmão, pelo artigo. Fraterno abraço!

  • 28 de dezembro de 2019 em 3:00 PM
    Permalink

    Los Manuscritos Edimburgo, Chetwode, Crawely y Kevan como génesis del Rito Moderno. Estos son junto con el Dunfreis, los manuscritos antecedentes del Rito Moderno

  • 29 de novembro de 2019 em 2:54 PM
    Permalink

    SEN-SA-CI-O-NAL! Parabéns!

  • 29 de novembro de 2019 em 12:52 PM
    Permalink

    Manuscrito Trinity College, (1711). Tenido como uno de los rituales fieles a la confesión original calvinista, más el manuscrito Kewan (1714-1720), me he referido a este manuscrito anteriormente como uno de los antecesores del rito de los Modernos, según la tesis de René Guilly y fue según Patrick Negrier, posiblemente junto con el Chetwode Crawley, fueran los rituales de la Mason´s Word practicados por otras logias de la federación calvinista presidida por la logia de Kilwinning. ….Graham de 1726, donde se indica que hubo una recuperación de un cuerpo, pero no parece tratarse del cuerpo del Arquitecto, porque todavía no se había construido la leyenda de Hiram….aunque para algunos autores esta cuestión ya venía prefigurada en los manuscritos Trinity College (1711) y en el Graham (1726), aunque no era Hiram el arquetipo sino la figura de Noé. En un documento que aporta el historiador Carr, perteneciente a la logia Dubarton Kilwinning, dice « le compagnon Gabraël Portefield a été reçu maître après avoir renouvelé son serment et payé son droit d’entrée

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *