Investigando a visita de Desaguliers a Loja Mary’s Chapel Nº1 (Escócia)

Considerado o Pai da Maçonaria Especulativa Moderna, um dos fundadores e terceiro Grão-Mestre da Grande Loja de Londres, John Theophilus Desaguliers, fez uma viagem a Edimburgo em 1721, onde foi recebido como irmão em uma loja Escocesa. Desde então, rios de tinta foram utilizados para tentar explicar as razões para tal visita.

1 – Desaguliers foi um cientista e engenheiro. Ele foi contratado para inspecionar e melhorar o sistema de abastecimento de água de Edimburgo. A viagem foi apenas para isso?

2 – Ele foi recebido na Loja Mary´s Chapel e aceito como um irmão Maçom. Então, a Maçonaria Inglesa e a Escocesa compartilhavam as formas de reconhecimento?

3 – Ele participou da incorporação de funcionários do governo da cidade que o havia contratado. Foi por causa de sua influência?

4 – O terceiro grau, de mestre maçom, ainda não existia ou era uma criação recente. Ele viajou para a Escócia afim de promovê-lo?

Todas estas questões ainda não foram esclarecidas, mas vamos analisar as informações que temos conhecimento.

A situação na Escócia no início do século 18

Antes de falarmos sobre o dia 24 de agosto de 1721, vamos entender como estava a Escócia naquele momento.

Habitada por cerca de um milhão de habitantes contra 5 milhões da Inglaterra, seu rendimento nacional era da ordem de 1/38 da Inglaterra, com uma população predominantemente rural. Edimburgo, a maior cidade da Escócia tinha cerca de 30 mil habitantes, que era o nível de muitas cidades do interior da Inglaterra. Glasgow, a segunda maior cidade do país, não tinha mais do que 15 mil habitantes e Aberdeen, Dundee, Perth e St. Andrews eram apenas aldeias de 4 a 5 mil habitantes.

A situação econômica da Escócia era catastrófica. Os anos de 1692 a 1699, chamados de “os sete anos malditos do Rei Guillermo”, foram dramáticos:

Os invernos rigorosos se sucediam com muita chuva e dando lugar a fome.

“…Pode se ver homens e mulheres caírem de fome ao longo de estradas e caminhos, crianças que morrem por esgotamento do leite de suas mães. A morte está presente, principalmente entre os pobres (…)”

A higiene era deplorável. Somente uma rua de Edimburgo era pavimentada e epidemias não paravam de castigar a população.

Consequência imediata desta fome, foi a imigração para os Estados Unidos, a maior influência sobre a demografia. Estima-se em 100 mil, o número total de escoceses expatriados no curso do século 17.

As importações oriundas da Inglaterra eram quase inexistentes. E os escoceses não tinham acesso aos mercados administrados por colônias inglesas. Esse bloqueio, se não o isolamento, os incentivou a embarcar na aventura da colonização.

William Patterson, nascido em 1658, era rico. Ele fez uma fortuna na América e na Índia. Voltou para a Escócia e anunciou um projeto de colonização no Istmo de Darien, o que corresponde hoje ao Panamá.

A ideia do projeto era fazer comércio terrestre entre mercados marítimos do Atlântico e do Pacífico. Ele criou em Edimburgo a “Company of Scotland Trading to Africa and the Indies” (Companhia de Comércio Escocês para a África e as Índias) e vendo isso como uma tentativa de competir com a Companhia das Índias Orientais (East India Company), os escoceses o financiaram, afim de forçar os holandeses a se retirarem.

Patterson criou tanto entusiasmo, que milhares de escoceses participaram para financiar o projeto, somando um total de 400.000 libras, que era estimativamente, a metade do capital nacional da Escócia. Então, em 12 de julho de 1698, cerca de 1.200 voluntários deixaram o porto.

Em 02 de novembro de 1698, desembarcaram em um lugar que eles batizaram como Nova Caledônia. Mas eles não encontraram nada mais do que uma terra inóspita, formada principalmente de pântanos e terra estéril. Ao mesmo tempo, um segundo contingente de cerca de 1.300 colonos partia da Escócia. Sob pressão dos espanhóis, os colonos decidiram deixar o Istmo de Darien. Dos 16 navios que partiram, só restava 1. Mais de 2000 escoceses morreram na aventura e muitos mais foram arruinados.

Assim, nesta situação econômica, demográfica e social, catastrófica, o Parlamento ratificou em 16 de janeiro de 1701, o Ato de União com a Inglaterra por 110 votos a 69.

Este ato estava longe de contar com a unanimidade. Robert Burns disse sobre os deputados escoceses: “Eles são comprados e vendidos em ouro Inglês”.

A população começou a promover tumultos e protestos, por uma maioria que estava contra a união, “contra a natureza”, depois de tantos anos.

E nesse clima tenso (como sempre), novamente entre a Inglaterra e a Escócia, é que a viagem de John Theophilus Desaguliers acontece.

Não sabemos quase nada da Grande Loja de Londres em 1721, e se deve principalmente à queima dos arquivos em 1722. De 1717 a 1722, portanto, não existem arquivos ou certezas.

Sabe-se que deste tempo, James Anderson reescreveu, a partir de sua memória, as atas dos primeiros cinco anos da Grande Loja de Londres. Mas podemos atribuir crédito?

James Anderson diz, por exemplo, que na formação de 1717, Anthony Sayer foi eleito, afim de esperar por um nobre para ocupar este cargo.

Foi real o que ele disse e decidiu ou apenas um elogio para o Duque de Montagu, eleito em 1721 ou para o Duque de Wharton em 1722?

Em 1722, John Theophilus Desaguliers deixou seu cargo de Grão-Mestre. E foi Grão-Mestre Adjunto em 1723. Qual foi o seu papel, a sua ação dentro da Grande Loja?

Sabemos que ele encomendou a James Anderson, cuja principal ocupação era criar genealogias, escrever a história do ofício.

Sabemos também que muitas personalidades, notáveis do mundo científico e da aristocracia, entraram na Maçonaria neste período.

Devemos lembrar que das quatro lojas que compuseram a Grande Loja de Londres, presume-se que três foram criadas para a ocasião. Em 1722 já haviam 24 lojas, demonstrando o crescimento significativo da Grande Loja em suas origens.

É atribuído a John Theophilus Desaguliers, um papel muito importante no recrutamento desta época e, em especial, o Duque de Montagu. É verdade que Desaguliers tinha muitas relações com pessoas importantes.

É evidente, que quando não estava ocupando um posto importante na Grande Loja, Desaguliers continuava bem ativo.

A situação da loja “Mary’s Chapel”.

A situação da loja Mary’s Chapel era muito diferente. Em primeiro lugar, ela enfrentava uma nova “concorrência”.

Vamos ler o que Stevenson disse: “… justamente no final do século 17, havia na área urbana uma única loja sob o controle da cidade de Edimburgo, embora os maçons de Canongate pertencessem a outra loja, a de Aitchison Haven” (Canongate é um distrito de Edimburgo).

Na segunda década do século 18, haviam cerca de quatro lojas na área, duas das três novas, tinham sido fundadas para desafiar a Mary´s Chapel.

Em 1667, os maçons de Canongate, onde a jurisdição da Mary´s Chapel não era aplicável, fundaram a sua própria loja, e em 1688 os maçons de Leith os imitaram. Em 1708, houve um grave conflito dentro da Loja Mary´s Chapel, que levou inúmeros companheiros a saírem da loja e fundarem sua própria organização, que se tornou uma loja separada.

Longe de ser a “Primeira loja” da Escócia, no sentido de exercer alguma autoridade sobre outras lojas no país, como William Schaw tinha planejado um século antes, a Loja de Edimburgo não poderia impor sua vontade ou suas próprias portas!

O outro ponto importante da situação da Loja Mary´s Chapel, é o momento da visita de John Theophilus Desaguliers, sobre o recrutamento dos não operativos.

Entre 1630 e 1674, ele tinha começado lentamente um trabalho com os não operativos que eram iniciados.

E assim, por vinte e cinco anos, cerca de 1700, mas especialmente em 1706, aparecem entre os outros como admitidos, Samuel Mc Clellan (Lorde Maior de Edimburgo) e reitor da Guilda. Em 1710 se vê uma grande admissão de não-operativos, cirurgiões, arquitetos, reitores de guildas, e etc. Dois carpinteiros também foram admitidos em 1711. Entre 1700 e 1710 a Loja Mary´s Chapel claramente transformou a “Aceitação”, fato que antes não havia nenhum interesse.

A estadia em Edimburgo

Nós não conseguimos encontrar qualquer vestígio da partida de Desaguliers de Londres para Edimburgo. No entanto, as “Atas do Conselho da Cidade” de Edimburgo dizem que Desaguliers foi recebido como um burguês da cidade, “Irmão de Guilda” na forma mais ampla e livre, pelo reitor da Guilda de Edimburgo, em 18 de janeiro 1721.

Isto levanta a seguinte questão: John Theophilus Desaguliers voltou a Londres para assistir à instalação do Duque de Montagu em 24 de junho 1721 e voltou para Edimburgo depois?

O que é certo, é que ele foi chamado pela cidade para resolver um problema de canalização de água do aqueduto de Comiston. Um aqueduto com o comprimento de três milhas, que alimentava o reservatório de água por gravidade natural, ligado a cinco fontes situadas na cidade.

Como o fluxo de água parou, Desaguliers se viu com verdadeiro problema: as bolsas de ar que bloqueavam a circulação da água. A história oficial diz que Desaguliers resolveu o problema colocando uma válvula que permitia a evacuação do ar de forma manual e em 1726 criou um tipo de êmbolo que funcionava automaticamente.

24 de agosto de 1721

O que Desaguliers fez durante esse mês em Edimburgo, ninguém sabe. Só que em 24 de agosto de 1721, está escrito na ata da Mary´s Chapel: “James Wattson, Diácono dos maçons de Edimburgo, presidiu. O dito Dr. John Theophilus Desaguliers, Companheiro da Royal Society e Capelão ordinário da Sua Graça, James Duque de Chandois, o último Mestre Geral das Lojas Maçônicas na Inglaterra, estando na cidade e desejoso de realizar uma reunião com o Diácono, o Vigilante e os Mestres Maçons de Edimburgo, o que lhe foi autorizado e ele se encontrando devidamente qualificado em todos os pontos da Maçonaria, foi recebido como um Irmão da Sociedade”.

Muitas observações vêm à mente com a leitura desta ata. O primeiro ponto diz respeito ao título que é dado a John Theophilus Desaguliers. Um Companheiro da Royal Society em primeiro lugar, por isso, o mais prestigioso.

Em seguida, o título que garante sua renda constante: Capelão para o Duque de Chandois. E no final o título de “Último Mestre Geral da Lojas Maçônicas da Inglaterra” (Grão-Mestre dos Maçons) até junho de 1721.

Mas o secretário de Mary´s Chapel não o chamou de Grão-Mestre, mas de Mestre Geral da Lojas Maçônicas da Inglaterra, o que não é o mesmo.

Alguns viram nisso uma vontade escocesa de não vai reconhecer a Grande Loja de Londres e, portanto, como um sinal de desconfiança, pelo menos.

Mas olhando bem, o título dado a John Theophilus Desaguliers foi ainda de mais prestígio, pois conferiu-lhe autoridade sobre todas as lojas maçônicas da Inglaterra.

Podemos propor as seguintes perguntas:

De onde veio tal título?

É uma certa desconfiança em relação à Grande Loja de Londres?

É, pelo contrário, um reconhecimento lisonjeiro por parte dos membros da Mary´s Chapel?

Será o título que Desaguliers dava a si mesmo?

Ou poderia ser que ele apresentou a Grande Loja de Londres como a organização que reagrupou e tomou autoridade sobre todas as lojas maçônicas inglesas?

O segundo ponto diz respeito a frase “desejoso de realizar uma reunião”.

A frase é clara: Desaguliers pediu para se encontrar com membros da Mary´s Chapel e é de se notar que não estava pedindo para ser admitido na loja. Ele só queria uma reunião. Vamos voltar mais tarde a este assunto.

O terceiro ponto diz respeito à passagem: “ele se encontrando devidamente qualificado em todos os pontos da Maçonaria”. Sabemos que essa expressão é tipicamente escocesa, mas não sabemos a que isso se refere. Em outras palavras, quais são os pontos da Maçonaria? É a Palavra do Maçom? É o conhecimento da abertura e fechamento da loja? É o conhecimento dos rituais de cerimônias de iniciação e passagem para o grau de “Companheiro”?

A expressão contém seus mistérios. De todo modo, ela está presente na ata da Mary´s Chapel.

De fato, a única razão plausível para Desaguliers ter respondido corretamente o telhamento dos membros da Mary´s Chapel, é que os rituais praticados em Edimburgo e em Londres, eram muito semelhantes. Qualquer outra explicação não refletirá a realidade do que aconteceu.

Mesmo atualmente, nossas atas contém expressões tradicionais que não correspondem em absoluto com o que é a realidade.

Um exame mais detalhado da ata da Mary´s Chapel, demonstraria se a expressão era utilizada toda vez que um visitante era telhado.

Quarto e último ponto: “foi recebido como um Irmão da Sociedade”. Essa passagem levou a numerosas interpretações devido à ambiguidade do texto. De fato, como no francês, o verbo “receber” poderia ser usado tanto para indicar a recepção em uma reunião, assim como ser recebido como membro da loja também.

Lembre-se que Desaguliers tinha pedido uma reunião, mas não ser recebido em loja.

A ata da loja relacionada com as suas reuniões oficiais, diz que Desaguliers foi recebido como um irmão.

Stevenson e Murray Lyon consideravam que Desaguliers se tornou um membro da Loja Mary´s Chapel. Pode até ser, mas nenhuma expressão indica este fato. Contudo pode-se pensar que ao ser telhado, ele foi considerado um maçom, e, consequentemente, um irmão, mas não um membro da loja.

Há um elemento que parece dar razão a Stevenson e Murray Lyon. De fato, podemos constatar nas atas posteriores da Mary´s Chapel que os visitantes são chamados assim, mas não os irmãos da loja. Além disso, o telhamento não é mencionado, e parece que, por ocasião da visita do Desaguliers, o que foi feito foi algo extraordinário em todos os sentidos do termo.

O 25 e 28 de agosto de 1721

Continuando a leitura das atas da Mary´s Chapel, com os acontecimentos após o dia 24 de agosto de 1721: “… no dia 25 deste mês, Diáconos, Vigilante, Mestres e muitos outros membros da Sociedade, reuniram-se com o dito Dr. Desaguliers que estava na Mary´s Chapel, onde um pedido foi apresentado por John Campbell, Lorde Maior de Edimburgo; George Preston e Hugo Hathom, oficiais de justiça; James Nemo, tesoureiro; William Livingston, Reitor Secretário de Negócios; e George Irving, Secretário do Reitor do Tribunal da Guilda; e desejando forte e humildemente serem admitidos para a referida Sociedade; e sendo considerado por eles, nesse sentido, responderam favoravelmente ao seu desejo e essas pessoas honrosas foram admitidas e recebidos Aprendizes Ingressados e Companheiro do Ofício”.

Na ata seguinte, de 28 de agosto 1721, apenas três dias depois:

“Ainda assim, no dia 28 do mesmo mês e por uma reivindicação feita por Sir Duncan Campbell de Loghnell, Barão; Monsieur Robert Wightman, atual Reitor da Guilda de Edimburgo; Monsieur Gorge Drummond, último Tesoureiro da mesma; Archibald Mac Aulay, último Conselheiro municipal e Patrick Lindsay, comerciante; desejando o mesmo favor, que lhes foi aceito e foram recebidos como membros da Sociedade, como as outras pessoas mencionadas. No mesmo dia, James Key e Thomas Aikman, servidores de James Wattson, Diácono dos maçons, foram admitidos e recebidos Aprendizes Ingressados, pagando a James Mack os direitos comuns”.

Vamos analisar este texto. Primeiro de tudo, a presença de John Theophilus Desaguliers não é expressamente atestada assim como em 25 agosto de 1721, durante sua primeira visita.

Embora em 28 de agosto se estipule o que aconteceu assim como em 24 de agosto, isso não inclui a presença de Desaguliers.

A questão de saber o porque ele estava presente no dia 24 de agosto e não no dia 28, me parece conveniente, estudar que eram as pessoas iniciadas naqueles dias.

Nota-se que em 24 de agosto de 1721 foram iniciados o Lorde Maior (prefeito), o Tesoureiro da cidade, 2 Oficiais de justiça, um representante dos comerciantes, todos da cidade. Em suma, os empregadores de John Theophilus Desaguliers em Edimburgo, que haviam lhe encomendado o trabalho e pago por eles.

Então, é bastante natural que Desaguliers estivesse presente nas suas iniciações. Em vez disso, no dia 28 agosto de 1721, eram essencialmente pessoas da Guilda, que foram recebidos. Não se pode dizer que a ausência de John Theophilus Desaguliers tivera sentido em 28 de agosto, no entanto em 24 de agosto, sim, tinha sentido.

Só mais uma observação: dois servidores foram iniciados em 28 de agosto de 1721, o que poderíamos supor que havia um desejo de expansão social dos membros da loja.

No entanto, estes dois servidores não serviam ninguém menos que o Diácono dos maçons, que poderia ser um membro da Loja. Deste modo, uma revisão cuidadosa das atas da Mary´s Chapel, poderia nos dizer algo.

Podemos notar que foram iniciados, mas não se tornaram Companheiros do Ofício e ainda foram os únicos que pagaram por seus direitos. Esse ponto parece revelar um detalhe da sociedade da época.

Pode ser que as personalidades recebidas na Mary´s Chapel, o haviam sido por agradecimento (por exemplo, por ter contratado John Theophilus Desaguliers) ou porque era uma honra para a Loja, ter celebridades. Também pode-se dizer que a cortesia mais elementar, exigia que nunca falassem sobre questões monetárias com pessoas de posição, mas você poderia fazer quando se tratava de servidores.

Seguindo Murray Lyon, vamos conhecer quem foram os 13 personagens iniciados em 25 e 28 de agosto de 1721:

John Campbell, iniciado em 25 de agosto de 1721, foi o Lorde Mayor (Prefeito) de Edimburgo entre 1715 e 1720 e novamente entre 1723 e 1724. Campbell era conhecido por sua ação dentro da cidade, pois permaneceu leal ao governo durante a rebelião de 1715.

Archibald Mac Aulay, iniciado em 28 de agosto de 1721, também foi Lorde Mayor (Prefeito) de Edimburgo entre 1727 e 1749. Mais tarde, ele se tornou Lorde Conservador dos privilégios escoceses em Cámpvere. Lorde Conservador tem a função de gerenciar uma área pública do País, proteger os direitos dos plebeus e conservar a beleza natural da sua área.

Campvere, que antes chamava Veere, é uma cidade dos Países Baixos. Pelo casamento do Lorde de Veere com a filha de James I da Escócia, em 1444, a cidade recebeu como um privilégio, ser a única cidade onde poderiam ser recolhidos produtos escoceses para ser vendidos a outras regiões. Escoceses que viviam em Veere foram sujeitos apenas à lei do “Conservador da nação escocesa”. Tal privilégio foi removido em 1847.

Patrick Lindsay, iniciado em 28 de agosto de 1721, era um comerciante muito conhecido, foi eleito quatro vezes como Prefeito de Edimburgo e representou a cidade no parlamento, entre 1734 a 1741. Foi também governador de Isle of Man, uma ilha localizada entre a Irlanda e a Grã-Bretanha.

Sir Duncan Campbell, iniciado em 28 de agosto de 1721, foi o descendente direto do terceiro Conde de Argyll, mas, sobretudo, um amigo pessoal e conselheiro da rainha Anne. No funeral de seu pai, em 10 de janeiro de 1714, foi uma ocasião de uma manifestação importante, a favor dos Stuarts exilados. Diz-se que este enterro foi realizado na presença de 2.500 homens armados. Sir Duncan Campbell tornou-se capitão de um dos seis regimentos independentes, formados pelo governo em 1729. Esses regimentos foram apelidados de “Os sentinelas negros”. O primeiro coronel dos “Sentinelas Negros” foi John, Conde de Crawford e membro da Loja Mary´s Chapel.

Portanto temos, um nobre, amigo pessoal e conselheiro da rainha Anne, três prefeitos da cidade de Edimburgo, três oficiais de justiça, o tesoureiro da cidade, o Reitor da guilda, o secretário do ex-Reitor e do Reitor do Tribunal da Guilda, o responsável pelos negócios. E todos se tornaram membros da loja Mary´s Chapel em quatro dias.

Difícil fazer melhor, não? E tudo isso durante a visita de John Theophilus Desaguliers; a coincidência é pelo menos motivo de estudo.

Resumo

Tendo visto o contexto geral e estudado da forma mais objetiva possível ata da Loja Mary´s Chapel para os dias 24,25 e 28 de agosto de 1721, é hora de tentar sintetizar o que sabemos ou podemos supor, de tais fatos, e as consequências da visita de Desaguliers a esta Loja Escocesa.

Com os elementos reunidos, que estão em nossa posse, a maioria das suposições são plausíveis e, em todo caso, não se contradizem com os textos da época.

Por exemplo, não sabemos o real propósito da viagem de Desaguliers para Edimburgo. Se era puramente profissional ou puramente maçônico. Se foi para lucro ou prazer. Não sabemos mais nada de sua presença em Edimburgo. De acordo com AQC (Ars Quatuor Coronatorum), ele estava lá, em janeiro de 1721, para uma reunião com o prefeito de Edimburgo. É razoável pensar que era por razões profissionais, para o problema hidráulico, mas parece que durante o verão, ele fez várias visitas a Edimburgo.

Mas será que ele não estava presente na instalação do Duque de Montagu, na Grande Loja de Londres, em 24 de junho?

Será que viajou de volta, mesmo sabendo que levaria quatro ou cinco dias para ir de Londres a Edimburgo?

Que contatos ele fez em Edimburgo, antes de 24 de agosto de 1721?

É difícil imaginar que Desaguliers apareceu na porta da Mary´s Chapel, anunciando que 11 membros eminentes da cidade queriam ser iniciados na Maçonaria. É mais provável que os contatos haviam ocorrido muito antes disso.

É certo que Desaguliers conheceu seus empregadores antes de agosto de 1721. É também provável que ele também manteve contatos anteriores com membros da guilda ou da Loja.

O fato é que Desaguliers pediu uma reunião oficial com membros da Mary´s Chapel. Na verdade, é nesse momento que Desaguliers pediu a James Anderson para reescrever a história do Craft, que os maçons da época não sabiam quase nada, de modo que qualquer informação sobre as origens escocesas era importante. Será que a escolha de Anderson foi porque seu pai tinha sido um membro da Loja Aberdeen, na Escócia?

Alguns historiadores argumentam que John Theophilus Desaguliers veio com rituais puramente ingleses para que as lojas escocesas os adotassem, em um tipo de demonstração, que teria ocorrido em 02 de agosto de 1721.

Esta tese não é de forma unânime e mostra aqui que durante os primeiros três anos, a Maçonaria Escocesa pode ter influenciado a Inglesa, pelo menos no início. O mais provável é que John Theophilus Desaguliers não viajou com o propósito de iniciar personalidades importantes.

Desaguliers tinha conhecimento dos membros importantes do Conselho, os contatos com as cortes aristocráticas poderiam ser de interesse da Loja Mary´s Chapel. Foi sem interesse que Desaguliers apresentou estes candidatos a Loja? Ou era, uma troca de favores?

Outra hipótese da coincidência: Desaguliers iria visitar os membros da Mary´s Chapel e relatou que seus empregadores queriam ser iniciados.

Eles querem se juntar a nós? …. Então temos que verificar se Sois Maçom… (O que foi verificado, de acordo com a ata).

Conclusão

Muitas das perguntas realizadas durante a confecção deste texto, não foram elucidadas. Nós propomos desde a introdução, tentar responder à questão da visita de Desaguliers a Edimburgo: Viajou para contribuir com algo ou para levar algo a esta loja?

Na primeira parte da questão, parece muito provável que Desaguliers beneficiou a Loja Mary´s Chapel com suas relações, ajudando o ingresso de personalidades, coisa que durante anos a loja tentou fazer.

Quanto à possibilidade de que Desaguliers pudesse ter introduzido o terceiro grau na Escócia durante a sua visita, não parece ter lógica, pois a história nos diz que esse grau não foi praticado na Mary´s Chapel, antes de 1738, ou seja, 17 anos após a visita de Desaguliers e dois anos após a criação da Grande Loja da Escócia.

Como naquele tempo, Desaguliers estava escrevendo a história da Maçonaria, e para dar crédito a Grande Loja de Londres, qualquer informação que pudesse enriquecê-lo, certamente interessaria Desaguliers. Por exemplo, a semelhança entre os rituais escoceses e ingleses da época.

O assunto é complexo e exige não apenas conhecimento histórico e maçônico. Acredito que um estudo mais apurado sobre as condições da criação da Grande Loja da Escócia em 1736, nos trará luz sobre as ações de John Theophilus Desaguliers. Uma boa idéia para uma nova matéria do “Prumo de Hiram”.

Saiba mais sobre este ícone da maçonaria, no link – https://www.oprumodehiram.com.br/john-theophilus-desaguliers-o-pai-da-maconaria-especulativa/

Lodge of Edinburgh (Mary’s Chapel) Nº 1

Bibliografia

R. Dachez – Renaissance Traditionnelle, n°83, 1990.

W. Ferguson – Scotland, 1689 to the present.

M. Duchein – Histoire de l’Ecosse.

D. Stevenson – Les premiers Francs-Maçons.

City Council Minutes (Transactions of Quator Coronati Lodge, vol 111 & 112).

A.W. Skempton – A biographical dictionary of civil engineers in Great Britain and Ireland.

David Murray Lyon – History of the Lodge of Edinburgh, Mary’s Chapel n°1.

The Builder Magazine, vol 14, 1928.

Texto de François Delaporte – Loge d’études et de recherches William Preston – 2008

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