Albert Pike, o R.E.A.A. e a Pandemia

INTRODUÇÃO
Embora a Maçonaria não seja religião, nem seus textos sejam proféticos, uma ensinamento dos altos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito (R.E.A.A.) impressiona por ser uma descrição do que era esperado dos maçons em tempos de pandemia.

Trata-se de um texto da obra Legenda and Readings, de Albert Pike, uma coletânea de monografias que eram utilizadas pelo Supremo Conselho de Charleston como ensinamentos complementares às instruções dos graus.

Mas, o que tem o R.E.A.A. a ver com pandemia? E que ensinamento é esse? Para compreender melhor, segue um pequeno histórico e, na sequência, o ensinamento de Pike.

BREVE HISTÓRICO

Os primeiros registros de uma pandemia mundial de doença respiratória datam do século 16. Desde então, a humanidade tem convivido com pandemias de tempos em tempos.

Surpreendentemente, a pandemia que mais provavelmente inspirou o discurso de Pike iniciou-se também na China, em 1830. Essa pandemia durou aproximadamente 3 anos e foi uma das mais severas já registradas, tendo infectado entre 20 e 25% da população mundial.

Pike já era adulto, tendo entre 21 e 24 anos, quando a pandemia atingiu os Estados Unidos. Anos depois, ele viria a ingressar na Maçonaria, tornando-se Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho de Charleston do R.E.A.A. em 1859.

Foi provavelmente a partir desse período que Pike começou a preparar essa coletânea de monografias complementares para os graus do R.E.A.A., publicadas entre 1880 e 1888. Curiosamente, a próxima pandemia mundial ocorreria exatamente no ano seguinte, em 1889.

O texto que fala sobre a pandemia pertence a um discurso para o 27º grau e  foi publicado em 1880, trazendo descrições e ensinamentos impressionantes.

(Vale ressaltar que esse texto não constitui segredo de grau e foi compilado em obra de domínio público, razão pela qual é apresentado aqui.)

Abaixo, uma tradução feita pelo autor deste artigo:

O TEXTO DE PIKE
“Quando uma epidemia de medo assola uma cidade e a morte é inalada pelo ar que os homens respiram, quando os vivos mal são suficientes para enterrar os mortos, a maioria dos homens foge com um terror indigno, para retornar e viver respeitável e influentemente [apenas] quando o perigo tiver passado.

Mas o velho espírito cavalheiresco de devoção, [solidariedade] desinteressada e desprezo pela morte ainda vive e não está extinto no coração humano. Em todos os lugares, uns poucos são encontrados firmes e inabaláveis em seus postos, para enfrentar e desafiar o perigo, não por dinheiro ou para serem honrados por isso, nem para proteger suas próprias famílias, mas por pura humanidade e para obedecer aos princípios infalíveis do dever.

Eles cuidam dos doentes, respirando a atmosfera pestilenta do hospital. Eles exploram as moradas da necessidade e da miséria. Com a gentileza de uma mulher, suavizam as dores dos moribundos e alimentam a lâmpada da vida nos convalescentes. Eles executam os últimos tristes ofícios aos mortos e não buscam outra recompensa senão a aprovação de suas próprias consciências.” (Legenda – Discurso sobre o 27º Grau)

Pike ainda continua, sintetizando o que era esperado dos irmãos que atingissem este grau, dizendo:

“Para a realização desses deveres e de atos de heroismo como esses, tu te devotaste, meu Irmão, ao se tornar um Cavaleiro Comandante do Templo. Soldado da Verdade e da Lealdade! Protetor da Pureza e da Inocência! Desafiador da Praga e da Peste! Cuidador dos Enfermos e Enterrador dos mortos! Cavaleiro, preferindo a Morte ao abandonar o seu posto de Dever!” (ibid)

CONCLUSÃO
O discurso de Pike descreve um cenário calamitoso, que provavelmente foi vivenciado de perto por ele anos antes, na pandemia de 1830-33.

Como se pode perceber, havia uma expectativa da parte de Pike de que os maçons do R.E.A.A., numa nova pandemia, tivessem uma atuação bastante presente e diferenciava.

Pike desejava formar maçons que enfrentariam a pandemia não por falta de cuidado, mas pelo entendimento de que deveriam servir ao próximo, quer prestando auxílio médico ou social, criticando ainda aqueles que, tendo condições para agir, se omitiam.

Evidentemente que é preciso considerar que o mundo e o contexto em que Pike viveu eram muito diferentes do nosso. Ainda assim, a atualidade da descrição de Pike é impressionante.

Que suas palavras possam nos inspirar a, pelo menos, procurarmos ser mais solidários durante esses períodos, bem como a valorizar os médicos e outros que estão na linha de frente durante esses momentos difíceis.

BIBLIOGRAFIA
POTTER, C.W. A History of Influenza. Society for Applied Microbiology. Londres: Outubro, vol. 91, ed. 4, pp. 572-579.

PIKE, Albert. Legenda and Readings of the Ancient and Accepted Scottish Rite of Freemasonry. Whitefish: Kessinger Publishing, 1993.

SOBRE O AUTOR
Luis Felipe Moura é M∴ M∴, membro da ARLS Conde de Grasse-Tilly 301 (GOP/COMAB). É bacharel em Letras (inglês), mestre em Teologia e em Psicanálise, atualmente trabalha como psicanalista e professor de Bíblia Hebraica.

2 thoughts on “Albert Pike, o R.E.A.A. e a Pandemia

  • 13 de março de 2021 em 10:33 PM
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    Excelente texto! Pike descreve sua época de maneira tão contemporânea que parece que descreveu nosso tempo. Fico imaginando que tipo de aprendizado levaremos para a nossa vida com essa Pandemia do COVID-19… Ainda precisamos aprender muito a empatia, amor fraternal, solidariedade e amor ao próximo.

  • 24 de junho de 2020 em 8:17 AM
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    Parabéns muito bom esse texto.
    Já havia lido algumas coisas sobre Albert Pike!

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